Poucas empresas escapam da queda geral dos lucros

EDUCAÇÃO E ALUGUEL DE IMÓVEIS FICAM FORA DA CRISE
Autor(es): Por Natalia Viri, Fernando Torres e Silvia Fregoni | De São Paulo
Valor Econômico – 27/08/2012
 

 

Um grupo de 12 companhias dos setores de educação e imóveis para aluguel, incluindo shopping centers, passou ao largo da maré de piora de resultados no segundo trimestre, aumentando em 153% os lucros e em 65% o faturamento. Farmacêuticas, frigoríficos e planos de saúde também escaparam da queda de lucros, mas os analistas esperavam delas uma melhor performance.

O conjunto das 245 principais empresas listadas em bolsa teve alta de 12% nas receitas, mas queda de 70% no lucro, no pior segundo trimestre desde 2002, de acordo com levantamento feito pelo Valor com base em dados da Economática.

 

No trimestre que talvez tenha marcado o fundo do poço e que levou mais de 60% das empresas listadas em bolsa a uma piora nos resultados, os setores de educação e de imóveis para aluguel chamaram a atenção de investidores na ponta oposta. Os lucros e resultados operacionais dessas empresas aumentaram de forma significativa e superaram as estimativas.

O conjunto das 245 principais empresas listadas em bolsa teve alta de 12% nas receitas, mas queda de 70% no lucro, no pior segundo trimestre desde 2002, de acordo com levantamento feito pelo Valor com base em dados da Economatica.

Já o grupo de 12 companhias dos setores de educação e de imóveis para aluguel – incluindo shopping centers -, avançou 65% no faturamento e lucrou 153% mais no período. (Nota: a amostra é diferente da que foi usada na tabela acima.)

“Esses segmentos tiveram melhora na rentabilidade pelo ganho de participação de mercado e de escala”, afirma João Noronha, estrategista-associado da área de pesquisa sobre ações do Santander. Ele destaca ainda que os dois segmentos reúnem empresas defensivas, que geram caixa e que permitem previsibilidade de resultados, mas com crescimento.

Outros setores que conseguiram melhora nos resultados no segundo trimestre, apesar do mau momento da economia em geral, foram os de farmácias, frigoríficos e planos de saúde. Os dois últimos, no entanto, não chegaram a empolgar e superar as estimativas dos especialistas.

O que não deixa dúvidas é que as empresas que conseguiram dar boas notícias aos investidores ainda são aquelas mais voltadas para o mercado interno. “Ainda que a economia esteja desacelerando, elas ainda tem um resultado melhor do que as ligadas ao cenário global”, afirma Noronha.

No setor de educação, as quatro empresas listadas – Anhanguera, Estácio, Kroton e Abril Educação – apresentaram melhora nos resultados. Embora a Abril ainda tenha ficado no vermelho, o prejuízo foi menor do que o registrado em igual período do ano anterior.

A procura por cursos de nível superior e a estratégia bem-sucedida de aquisições de faculdades de menor porte estão entre os ingredientes por trás do bom desempenho. “A falta de mão de obra qualificada abre espaço para um crescimento forte dessas empresas“, afirma Sandra Peres, analista da Coinvalores.

A base de alunos da Estácio aumentou 9,3% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Na Anhanguera, esse aumento foi de 31,4%. Já na Kroton, a base de estudantes matriculados saltou quase quatro vezes, para 412,8 mil, impulsionada principalmente pela aquisição da Unopar e da Uniasselvi, que a alçaram à condição de líder em ensino à distância.

Mas, para além do crescimento da base, a gestão eficiente e o sucesso na captação de sinergias também explicam o bom resultado das redes de ensino. A margem operacional da Estácio, após a incidência dos custos e despesas de operação, cresceu 3,4 pontos percentuais no segundo trimestre, para 11,3% e fez com que a empresa elevasse a projeção para o indicador no ano, de 14,7%, para 15,7%.

Na Kroton, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu mais de cinco vezes, para R$ 72,4 milhões. Nesse caso, a estrutura de custos enxuta do ensino à distância explica parte do bom desempenho. A margem bruta – a taxa de receita restante após a incidência de custos – da educação à distância foi de 80%, frente a 34,5% no segmento presencial. “O principal custo dessas empresas é com professores. No ensino à distância, um professor atinge centenas de alunos via Internet”, explica Sandra.

Na teleconferência sobre os resultados do trimestre, o presidente da Kroton, Ricardo Galindo, afirmou que, até outubro, pretende pedir o credenciamento de até 300 polos para ensino à distância.

Segundo Sandra, da Coinvalores, outro fator por trás do sucesso das empresas do setor é a parcimônia na estratégia de aquisições. Evitando a tentação de crescer a qualquer custo, que vitimou as incorporadoras, a redes de ensino se mostram dispostas a botar o pé no freio para manter a rentabilidade.

A Anhanguera já deixou claro aos acionistas que, neste ano, não quer adicionar novas empresas ao portfólio, mas sim capturar as sinergias e recompor seu colchão de recursos. Com essa estratégia, no segundo trimestre deste ano, a geração de caixa após os investimentos foi de R$ 49,5 milhões frente a uma “queima” de R$ 2,5 milhões no mesmo período de 2011.

No segmento de investimento para renda com aluguel, o lucro foi impulsionado por vendas e reavaliações de imóveis, mas os resultados operacionais também agradaram os investidores e as margens seguiram altíssimas.

Nos shopping centers, embora tenha havido uma desaceleração no ritmo de crescimento nas vendas no conceito mesmas lojas, o avanço permaneceu acima do verificado nas redes de lojas com ações em bolsa. “Ainda há uma migração do varejo de rua para os shoppings, por isso eles conseguem expansão maior que a do varejo como um todo“, afirma Renê Brandt, analista da Fator Corretora.

O crescimento via aquisições também teve influência nas farmácias, com ganhos de sinergia e crescimento constante dos negócios. O lucro da Raia Drogasil subiu 78% no trimestre, com impacto positivo das sinergias da associação entre as duas redes, como era esperado.

A Brazil Pharma, braço de varejo farmacêutivo do banco BTG e cujo modelo de negócios prevê importante atuação na consolidação do setor, saiu de prejuízo para lucro no segundo trimestre. A companhia atribuiu a melhora, principalmente, ao crescimento por aquisições e também por meio das lojas já existentes.

Na área de saúde, o analista Iago Whately, da Fator C orretora, diz que a formalização do mercado de trabalho ajuda, mas os resultados do trimestre não foram guiados por questões setoriais. Na Amil, que teve alta de 10% no lucro, ele diz que a data do Carnaval distorceu a comparação. “Por isso que parece que melhorou.”

Já Odontoprev e Tempo Assist tiveram melhoras nos lucros e nas margens, mas por questões específicas. “A Odontoprev trocou o sistema que era usado na Bradesco Dental, o que teve impacto positivo no custo. Já a Tempo tem também a parte de assistência, que é significativa para o negócio e puxou o resultado“, afirma.

Empresas de varejo, como Lojas Renner e Hering, também lucraram mais no trimestre. Nesse caso entretanto, a reação foi neutra. Só não houve surpresa negativa, destaca Valder Nogueira, analista-chefe da área de pesquisa do Santander, porque os analistas já haviam revisto para baixo, diante de dados macroeconômicos ruins.

Um grupo de 12 companhias dos setores de educação e imóveis para aluguel, incluindo shopping centers, passou ao largo da maré de piora de resultados no segundo trimestre, aumentando em 153% os lucros e em 65% o faturamento. Farmacêuticas, frigoríficos e planos de saúde também escaparam da queda de lucros, mas os analistas esperavam delas uma melhor performance.

O conjunto das 245 principais empresas listadas em bolsa teve alta de 12% nas receitas, mas queda de 70% no lucro, no pior segundo trimestre desde 2002, de acordo com levantamento feito pelo Valor com base em dados da Economática.

 

No trimestre que talvez tenha marcado o fundo do poço e que levou mais de 60% das empresas listadas em bolsa a uma piora nos resultados, os setores de educação e de imóveis para aluguel chamaram a atenção de investidores na ponta oposta. Os lucros e resultados operacionais dessas empresas aumentaram de forma significativa e superaram as estimativas.

O conjunto das 245 principais empresas listadas em bolsa teve alta de 12% nas receitas, mas queda de 70% no lucro, no pior segundo trimestre desde 2002, de acordo com levantamento feito pelo Valor com base em dados da Economatica.

Já o grupo de 12 companhias dos setores de educação e de imóveis para aluguel – incluindo shopping centers -, avançou 65% no faturamento e lucrou 153% mais no período. (Nota: a amostra é diferente da que foi usada na tabela acima.)

“Esses segmentos tiveram melhora na rentabilidade pelo ganho de participação de mercado e de escala”, afirma João Noronha, estrategista-associado da área de pesquisa sobre ações do Santander. Ele destaca ainda que os dois segmentos reúnem empresas defensivas, que geram caixa e que permitem previsibilidade de resultados, mas com crescimento.

Outros setores que conseguiram melhora nos resultados no segundo trimestre, apesar do mau momento da economia em geral, foram os de farmácias, frigoríficos e planos de saúde. Os dois últimos, no entanto, não chegaram a empolgar e superar as estimativas dos especialistas.

O que não deixa dúvidas é que as empresas que conseguiram dar boas notícias aos investidores ainda são aquelas mais voltadas para o mercado interno. “Ainda que a economia esteja desacelerando, elas ainda tem um resultado melhor do que as ligadas ao cenário global”, afirma Noronha.

No setor de educação, as quatro empresas listadas – Anhanguera, Estácio, Kroton e Abril Educação – apresentaram melhora nos resultados. Embora a Abril ainda tenha ficado no vermelho, o prejuízo foi menor do que o registrado em igual período do ano anterior.

A procura por cursos de nível superior e a estratégia bem-sucedida de aquisições de faculdades de menor porte estão entre os ingredientes por trás do bom desempenho. “A falta de mão de obra qualificada abre espaço para um crescimento forte dessas empresas“, afirma Sandra Peres, analista da Coinvalores.

A base de alunos da Estácio aumentou 9,3% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Na Anhanguera, esse aumento foi de 31,4%. Já na Kroton, a base de estudantes matriculados saltou quase quatro vezes, para 412,8 mil, impulsionada principalmente pela aquisição da Unopar e da Uniasselvi, que a alçaram à condição de líder em ensino à distância.

Mas, para além do crescimento da base, a gestão eficiente e o sucesso na captação de sinergias também explicam o bom resultado das redes de ensino. A margem operacional da Estácio, após a incidência dos custos e despesas de operação, cresceu 3,4 pontos percentuais no segundo trimestre, para 11,3% e fez com que a empresa elevasse a projeção para o indicador no ano, de 14,7%, para 15,7%.

Na Kroton, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu mais de cinco vezes, para R$ 72,4 milhões. Nesse caso, a estrutura de custos enxuta do ensino à distância explica parte do bom desempenho. A margem bruta – a taxa de receita restante após a incidência de custos – da educação à distância foi de 80%, frente a 34,5% no segmento presencial. “O principal custo dessas empresas é com professores. No ensino à distância, um professor atinge centenas de alunos via Internet”, explica Sandra.

Na teleconferência sobre os resultados do trimestre, o presidente da Kroton, Ricardo Galindo, afirmou que, até outubro, pretende pedir o credenciamento de até 300 polos para ensino à distância.

Segundo Sandra, da Coinvalores, outro fator por trás do sucesso das empresas do setor é a parcimônia na estratégia de aquisições. Evitando a tentação de crescer a qualquer custo, que vitimou as incorporadoras, a redes de ensino se mostram dispostas a botar o pé no freio para manter a rentabilidade.

A Anhanguera já deixou claro aos acionistas que, neste ano, não quer adicionar novas empresas ao portfólio, mas sim capturar as sinergias e recompor seu colchão de recursos. Com essa estratégia, no segundo trimestre deste ano, a geração de caixa após os investimentos foi de R$ 49,5 milhões frente a uma “queima” de R$ 2,5 milhões no mesmo período de 2011.

No segmento de investimento para renda com aluguel, o lucro foi impulsionado por vendas e reavaliações de imóveis, mas os resultados operacionais também agradaram os investidores e as margens seguiram altíssimas.

Nos shopping centers, embora tenha havido uma desaceleração no ritmo de crescimento nas vendas no conceito mesmas lojas, o avanço permaneceu acima do verificado nas redes de lojas com ações em bolsa. “Ainda há uma migração do varejo de rua para os shoppings, por isso eles conseguem expansão maior que a do varejo como um todo“, afirma Renê Brandt, analista da Fator Corretora.

O crescimento via aquisições também teve influência nas farmácias, com ganhos de sinergia e crescimento constante dos negócios. O lucro da Raia Drogasil subiu 78% no trimestre, com impacto positivo das sinergias da associação entre as duas redes, como era esperado.

A Brazil Pharma, braço de varejo farmacêutivo do banco BTG e cujo modelo de negócios prevê importante atuação na consolidação do setor, saiu de prejuízo para lucro no segundo trimestre. A companhia atribuiu a melhora, principalmente, ao crescimento por aquisições e também por meio das lojas já existentes.

Na área de saúde, o analista Iago Whately, da Fator C orretora, diz que a formalização do mercado de trabalho ajuda, mas os resultados do trimestre não foram guiados por questões setoriais. Na Amil, que teve alta de 10% no lucro, ele diz que a data do Carnaval distorceu a comparação. “Por isso que parece que melhorou.”

Já Odontoprev e Tempo Assist tiveram melhoras nos lucros e nas margens, mas por questões específicas. “A Odontoprev trocou o sistema que era usado na Bradesco Dental, o que teve impacto positivo no custo. Já a Tempo tem também a parte de assistência, que é significativa para o negócio e puxou o resultado“, afirma.

Empresas de varejo, como Lojas Renner e Hering, também lucraram mais no trimestre. Nesse caso entretanto, a reação foi neutra. Só não houve surpresa negativa, destaca Valder Nogueira, analista-chefe da área de pesquisa do Santander, porque os analistas já haviam revisto para baixo, diante de dados macroeconômicos ruins.